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João Eduardo Justi - Publicado em 03-10-2024 13:00
Biodiversidade das cloud forests é afetada pelas mudanças climáticas
As florestas nebulares são objeto de pesquisa na UFSCar (Foto: Rafael Beltrame Bignotto)
As florestas nebulares são objeto de pesquisa na UFSCar (Foto: Rafael Beltrame Bignotto)

Você já ouviu falar em cloud forests? As cloud forests são conhecidas como florestas nebulares ou florestas de neblina. São ecossistemas raros e únicos, representando apenas cerca de 1% das florestas globais, situados principalmente em regiões montanhosas onde as condições permitem a formação de neblina. No Brasil, elas são encontradas, por exemplo, na Serra do Mar, uma cadeia de montanhas que se estende por 1.500 km no sudeste do País, paralelamente ao Oceano Atlântico. A proximidade com o oceano faz com que o ar úmido evapore, suba com as correntes de vento e, ao atingir as encostas das montanhas, se condense e forme nuvens, criando um ambiente perpetuamente úmido. A Serra da Mantiqueira é outra cadeia de montanhas, que abrange os estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, e também proporciona condições para a formação dessas florestas úmidas e ricas em biodiversidade.

As cloud forests são objeto de pesquisa da professora Kelly Tonello, do Departamento de Ciências Ambientais (DCA-So) do Campus Sorocaba da UFSCar. O grupo coordenado por ela conta com a participação dos professores Sergio Dias Campos e Aparecido Junior de Menezes, do Departamento de Física, Química e Matemática (DFQM-So), e Albano Magrin, do Departamento de Biologia (DBio-So). 

De acordo com Tonello, essas florestas têm um papel vital na regulação do ciclo hidrológico regional. As florestas nebulares recebem água não apenas da precipitação direta, mas também da captação de umidade da neblina, um processo conhecido como precipitação horizontal. Isso significa que, além da chuva, a neblina que constantemente envolve essas áreas contribui de maneira significativa para o balanço hídrico, garantindo a alta umidade e sustentando a vegetação e a biodiversidade local. "Essa entrada de água via neblina é crucial para a manutenção das características únicas desses ecossistemas. O nível elevado de umidade favorece uma biodiversidade rica, especialmente de epífitas, como briófitas e líquens, que absorvem umidade e nutrientes diretamente do ar. Muitos organismos presentes são endêmicos, ou seja, só existem ali, o que faz dessas florestas locais importantes para a biodiversidade e para a estabilidade ecológica", descreve a professora da UFSCar.

A pesquisa é focada nas florestas nebulares brasileiras, especialmente na região da Serra do Mar e Mantiqueira, em São Paulo. Os estudos buscam compreender os serviços eco-hidrológicos dessas florestas, com foco na repartição de chuva, capacidade de retenção de água pelas briófitas (pequenas plantas como musgos, hepáticas e antóceros abundantes nos troncos das árvores, folhas, solo e rochas) e na fixação de nitrogênio, além de investigar os impactos das mudanças climáticas nesses ecossistemas. "Esses processos são críticos para a sustentabilidade e resiliência ecológica das florestas nubladas, contribuindo para a manutenção da hidrologia regional e a fertilidade do solo", destaca Tonello.

Os estudos já realizados até aqui identificaram que as briófitas desempenham um papel fundamental na retenção de água, ajudando a manter o ambiente úmido durante todo o ano, mesmo em períodos de menor precipitação. "Além disso, foi identificado que as florestas nebulares são altamente vulneráveis às mudanças climáticas, que podem reduzir a imersão de umidade e aumentar as temperaturas. Isso poderia afetar negativamente a biodiversidade, especialmente as epífitas que dependem de altos níveis de umidade, levando à perda de espécies e à reorganização de comunidades ecológicas", aponta Tonello.

O projeto tem a parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), Universidade de Hamburg, Cleveland State University, Adam Mickiewicz University e Universidade de Copenhagen, onde Kelly Tonello esteve recentemente para trocas de conhecimentos e experiências. A colaboração inclui ações como trabalho de campo conjunto, intercâmbios acadêmicos e desenvolvimento de novas metodologias. A pesquisa é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).